Aspectos gerais da comunicaçao social

          O entendimento sobre a etimologia e sobre as perspectivas teóricas da comunicação permite avaliar de forma mais reflexiva a importância e o alcance de determinadas mensagens que são veiculadas pelos meios. Para isto, é necessário investigar a função de “tornar comum” determinados conteúdos a partir das noções de “sobrevivência social”, “agir comunicativo” e “cultura”.

          A história da humanidade é marcada pela necessidade intrínseca que o homem tem de dar sentido a sua existência e ao mundo “concreto” no qual está inserido. Das primeiras manifestações sonoras e pictóricas do homem primitivo (grunhidos, instrumentos musicais rústicos e desenhos nas paredes das cavernas) às redes de relações que se estabelecem através das tecnologias digitais (internet), a comunicação mostra a necessidade que o homem tem de transmitir e trocar mensagens. Nesse sentido, podemos afirmar que o ato comunicativo é a tentativa que cada homem e cada grupo de homens faz para entrar em relação com outros homens e outros grupos. O tipo de roupa que usamos, as palavras que escolhemos, os gestos que utilizamos e até mesmo as cores ou músicas que preferimos significam alguma coisa, ou seja, “dizem” algo a nosso respeito. É por isso que, quando ouvimos falar sobre a produção de conteúdos para jornais, revistas, rádio, meios audiovisuais e internet, ouvimos falar também dos cuidados que estas produções têm (dependendo do veículo) com o figurino (roupas e acessórios), o roteiro (o que vai ser dito), a direção (orientações sobre o comportamento) e o cenário (cores, ambientes, paisagens) relativos a elas. E isto acontece porque, para que essas produções possam “contar uma história” (o que significa “transmitir uma mensagem”), seja ela real ou fictícia, elas precisam utilizar elementos visuais e sonoros que “signifiquem” alguma coisa. Ou seja: elas precisam comunicar, precisam fazer com que aquilo que querem dizer seja entendido pelas pessoas.

          A partir destas idéias iniciais, vamos pensar sobre alguns conceitos importantes para o campo da comunicação. Vamos começar com a etimologia da palavra, para entendermos um pouco sobre o significado da palavra comunicação. Como “etimologia” quer dizer “origem da palavra”, a “etimologia da comunicação” quer dizer o mesmo que “a origem da palavra comunicação”. Esta origem vem do latim (como acontece com muitas palavras da língua portuguesa), mais especificamente da palavra “communicare”, cujo significado é “tornar comum”, “partilhar”, “repartir’, “associar”. Esta definição está no “Dicionário da Comunicação”, (BARBOSA, Gustavo & RABAÇA, Carlos Alberto. Rio de Janeiro: Campus, 2001) e nos leva a entender que o ato de comunicar é a tentativa de fazer com que nossas idéias e opiniões sejam divididas com os outros, sejam “comuns” a outras pessoas que não apenas nós mesmos ou o grupo ao qual pertencemos.

          Estes significados, por sua vez, nos remetem a perspectivas históricas, sociológicas e antropológicas da comunicação. Vamos a elas.

          Como é possível saber o que aconteceu no passado da humanidade? Como temos acesso à história do descobrimento do Brasil? Como conseguimos viver em sociedade? Por que estudamos ou nos casamos? Por que comemoramos o carnaval, o natal e o nosso aniversário? Você já parou para se perguntar sobre isto? Não?! Então, é hora de questionarmos essas coisas que parecem tão “normais” para a gente.

          Na verdade, se observarmos a natureza ou o estado “natural” da vida e dos seres, perceberemos que o homem é cercado de convenções. Isto equivale a dizer que, dentre todos os animais que existem, o homem é o único que relata (relatar = falar sobre, contar, transmitir) o seu passado, as suas regras de convivência, as suas funções em grupo, o seu papel sexual, o seu tempo de vida, os seus medos, as suas esperanças, as suas dúvidas, as suas certezas. Ou seja: uma das características mais marcantes e importantes do homem é, como vimos inicialmente, “dar sentido” a tudo o que faz. Por isso, além da explicação etimológica de “comunicação”, vamos investigar também o que as áreas de conhecimento da História, da Sociologia e da Antropologia nos dizem sobre o “ato de tornar comum”.

          A História pode ser definida como a narração organizada de acontecimentos importantes que aconteceram com alguns povos em particular e com a humanidade em geral. Para esta área de conhecimento, a comunicação funciona como uma forma de “sobrevivência social”: através dela, vivências e fatos anteriores a nós podem ser organizados e transmitidos de geração em geração. Assim, não só conhecemos o passado como também entendemos o que somos no presente – o que corresponde ao sentido de “associar”.

          A Sociologia é o estudo das relações que se estabelecem entre os indivíduos de um mesmo grupo e entre os diferentes grupos de uma mesma sociedade. Para ela, é através da comunicação que as pessoas passam a fazer parte de uma determinada sociedade e nela se relacionam, ou seja: a comunicação é um instrumento essencial para as relações sociais. Nesta perspectiva, a comunicação permite a convivência em grupo – o que corresponde ao sentido de “repartir”.

          Já a Antropologia considera que toda ação do homem sobre a Natureza (ou sobre o “estado natural” dos seres) é uma ação cultural. Para “mostrar” esta transformação operada sobre o mundo natural, o homem, em seu convívio com outros homens, precisa... Comunicar! Isto equivale a dizer que não pode haver cultura sem comunicação: ela não só permite que o indivíduo “adquira” cultura como também é formadora da cultura. A isto, podemos associar à idéia de “tornar comum”.

          Porém, muitas vezes, as pessoas confundem a comunicação com um modelo meramente esquemático e ela é muito, muito mais complexa que isto. Este modelo esquemático, por sua vez, pode nos ajudar nesta reflexão inicial sobre a comunicação.

          A comunicação não envolve apenas uma tríade na qual alguém diz alguma coisa para outro alguém. Ou seja: ela não se estrutura apenas em um conteúdo que deve ser transmitido de “A” para “B”. Apesar de estes três elementos estarem, sim, envolvidos neste processo, eles dependem de outros para que o ato comunicativo se efetive. Isto nos aponta para a necessidade de haver um “meio” para que “A” transmita algo para “B”. Esta transmissão, por sua vez, se dá de determinada “forma”. Por exemplo: Quando “A” faz uma saudação para “B”, isto pode acontecer através da fala ou de um bilhete, que são os “meios” pelos quais esta saudação pode ser feita; ao mesmo tempo, para que esta saudação seja entendida, é preciso que tanto “A” quanto “B” compreendam o conteúdo daquela fala ou daquele bilhete, compreendam a que este conteúdo se refere. Assim, quando João (“A”) fala (“meio”) “Bom dia!” (“conteúdo” + “forma”) para Maria (“B”), ela vai entender que ele a está cumprimentando (“referência”).

          Cada um desses elementos envolvidos no processo comunicativo tem uma nomenclatura específica. Eles são: emissor; receptor; canal; código; mensagem; referente; contexto; e feedback. O EMISSOR é aquele que transmite a mensagem, ou seja, é João, aquele que está saudando. Já Maria é o RECEPTOR da mensagem, aquela que está recebendo a saudação. Como João fez esta saudação através da fala e não de um bilhete, dizemos que a fala é o CANAL através do qual esta saudação está sendo feita. Por ter dito “Bom dia!” e não “Good morning!” ou “Bonjour!”, João utilizou a “forma” da língua portuguesa, ou seja, utilizou um CÓDIGO que tanto ele quanto Maria são capazes de decifrar. O conteúdo do que foi dito em língua portuguesa, o “Bom dia!” é a MENSAGEM que João está querendo transmitir para Maria e que ela vai entender como uma saudação porque isto, na cultura e no CONTEXTO que ambos partilham, se refere (é um REFERENTE) a alguém cumprimentando outro alguém, sendo educado, etc. Já o FEEDBACK desta situação será a resposta que Maria dará a João.

          Parece simples, né?!

          Mas não é... Principalmente porque, na sociedade individualista, globalizada e “mediatizada” na qual vivemos, o sentido de “partilha” das mensagens e dos feedbacks (e suas perspectivas históricas, sociológicas e antropológicas) sofrerá incontáveis transformações e formatações em relação às variáveis que envolvem emissor, receptor, canal, código, contexto e referente.

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