Características dos veículos de comunicação
Para entendermos o que são e como se estruturam os diferentes veículos de comunicação, precisamos historicizar seu aparecimento na vida cotidiana do homem. Antes da disseminação da escrita, as mensagens eram transmitidas oralmente. Porém, com o advento e o fortalecimento do das trocas comerciais, a mercantilização também passou a abarcar as idéias e informações. Para que elas fossem transmitidas mais agilmente de um lugar para outro, uma invenção foi fundamental: a prensa de tipos móveis do alemão Johannes Gutenberg, no século XV. Isto deu um grande impulso à impressão de livros, cujo conteúdo, até então, se restringia aos “eleitos”. Elaborados artesanalmente e contendo um saber que dava poder a quem o detinha, os escritos eram verdadeiros tesouros, guardados a sete chaves. Qum assistiu ao filme O nome da rosa (quem não assistiu, que nos desculpe a informação) lembra que o mistério dos assassinatos investigados pelo frade franciscano William de Baskerville estava nas páginas envenenadas guardados na biblioteca da abadia medieval.
Com a agilização da impressão, as tipografias se multiplicaram e os livros se disseminaram. Paralelamente, a ascendência da burguesia e o fortalecimento cada vez maior do capitalismo fizeram com que o homem passasse a ter uma nova forma de vida. A raiz desta mudança está em duas grandes revoluções da história: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Em meados do século XVII, na Inglaterra, o liberalismo econômico, a acumulação de capital e invenções como o motor a vapor ocasionaram uma série de mudanças tecnológicas de grande impacto no processo produtivo: a era agrícola foi superada e a máquina suplantou o trabalho humano. Isto estabeleceu uma nova relação entre capital e trabalho, o que alterou as relações entre nações e fez emergir a cultura de massa. Já a Revolução Francesa é o nome dado a uma série de eventos que, no fim do século XVIII, mudaram radicalmente a estrutura política e social da França. Esses acontecimentos questionaram veementemente a autoridade do Antigo Regime, cujas bases estavam no clero e na nobreza. A revolução Francesa dá início ao que conhecemos como Idade Contemporânea, na qual a servidão e os direitos feudais foram abolidos em nome dos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade.
Longe do campo e de suas relações de parentesco e vizinhança, o homem se tornou mão de obra das fábricas nas concentrações urbanas que começavam a emergir. Isolado na multidão das cidades que se formavam, este “novo” homem foi, aos poucos, perdendo contato com as tradições que eram transmitidas oralmente e passando a fazer parte de uma massa anônima e indiferenciada. Para que este homem massificado pudesse entender o mundo caótico que o rodeava surgiu o jornal impresso. Inicialmente, o formato do jornal era semelhante ao do livro e sua linguagem procurava imitar o estilo de grandes escritores dos séculos XVI e XVII, como Shakespeare, Molière e Cervantes. Os conteúdos veiculados não eram os das notícias como conhecemos hoje e sim uma série de textos inflamados, que buscavam interpretar a política e orientar os leitores.
Com o tempo, ao perceber que aquele espaço de transmissão de idéias e informações poderia também ser usado para vender produtos, o capitalista dono do jornal começou a vender o espaço de suas páginas para os anúncios, o que fez com que as páginas tivessem que aumentar de tamanho. Paralelamente, para que os anunciantes se interessassem por comprar este espaço, o jornal tinha que ter um público considerável. Por isso, este produto tinha que se tornar atraente para a massa: é aí que está a origem dos jornais populares.
Para o senso comum, os jornais populares são sinônimo de “sensacionalismo”. Porém, um estudo mais cuidadoso sobre as técnicas persuasivas dos periódicos nos mostra que, em verdade, todo e qualquer jornal é sensacionalista. Alguns autores, como o professor Dênis de MORAES (2003), chegam mesmo a nos apontar que toda comunicação, para ser eficiente, envolve as sensações.
Será?!
Certamente que sim. Atrelada á história do capitalismo, a história dos meios de comunicação mostra como os valores capitalistas de universalidade e uniformização são fundamentais para os veículos da chamada comunicação de massa. E a mobilização dos receptores em relação a estes valores se dá muito mais pelos apelos à sensação que pela racionalidade. É por isso que, cada um a sua maneira, todos os jornais apelam para as sensações, tanto aquele que custa R$ 0,50 e estampa manchetes escandalosas quanto os sisudos periódicos especializados em economia.
Este apelo às sensações ganhou força com a introdução da fotografia nas páginas dos jornais. Fotografia significa “foto=luz” + “grafia=escrita”, ou seja: fotografar é escrever com a luz. Criada no início do século XIX, suas técnicas são creditadas a uma série de pessoas. Para Eduardo NEIVA (1986), ela é “uma experiência radical do momento” que permite a reprodutibilidade técnica. Ou seja: ela captura um instante de forma dramática e derradeira e permite sua amplificação. Um prato cheio para a cultura de massa representada pelos jornais, não é mesmo? A fotografia também foi fundamental para o desenvolvimento das revistas – um caso especial de segmentação de mercado que estudaremos em separado.
É na fotografia que está a raiz de outra forma de comunicação que, no século XX, iria cooptar de forma eficientíssima as massas: o cinema. Derivado da palavra cinematógrafo (inventado pelos irmãos Lumière, no século XIX), o cinema cria a ilusão do movimento ao projetar, rápida e sucessivamente, uma série de fotogramas. Esta ilusão de movimento foi um tremendo impacto na cognição do homem, que passou a ter presentificados personagens e ações ausentes da realidade imediata, substituindo a experiência pelas representações. Para se ter uma idéia da força do cinema, Adolf Hitler fez muito uso dele para cooptar uma nação inteira em torno dos ideais do nazismo, em especial através dos impressionantes filmes da cineasta alemã Leni Riefenstahl. Os Estados Unidos também não deixaram por menos: utilizaram (e utilizam até hoje) a indústria cinematográfica de Hollywood para disseminar globalmente os valores do chamado “american way of life”.
Paralelamente ao desenvolvimento do cinema, o rádio também foi usado para “encantar” as massas. No Brasil, ele teve a sua primeira transmissão oficial em 1922. O sistema de comunicação do rádio se dá pela transmissão ondas eletromagnéticas que se propagam no espaço. Por terem comprimento diferente, essas ondas são classificadas em ondas curtas de alta frequência e ondas longas de baixa frequência. Inicialmente voltado para as elites, o rádio logo chamou a atenção das camadas mais populares. Não foi à toa que Getúlio Vargas legalizou o veículo no país, utlizando-o em prol de seus ideais. A década de 1940 é conhecida como a “era de ouro do rádio brasileiro”, quando os grandes intérpretes da música brasileira e os grandes dramas da radionovela mobilizavam os ouvintes.
No início da década seguinte, em 1950, a televisão chega ao Brasil. Trazida pelo empresário da comunicação, Assis Chateaubriand, a televisão veio formar um sistema integrado de informação, ao se agregar ao complexo de veículos impressos (Diários Associados) e eletrônicos (Emissoras Associadas) de propriedade de Chatô. Como não havia, no Brasil, referência de como se fazer TV, o veículo “importou” os profissionais e programas do rádio e sua chegada foi anunciada com o slogan “vem aí o rádio com imagem”. E a TV era mesmo uma espécie de rádio com imagens: a impressão que se tem era a de que a câmera havia sido posta no estúdio de uma emissora de rádio. Além disso, a programação era feita ao vivo, o que fazia com que muitos erros fossem ao ar. Improviso era a palavra de ordem. Pelo menos até a introdução da técnica do videoteipe, que passou a permitir que as imagens fossem gravadas e, posteriormente, editadas, antes de serem veiculadas. O videoteipe (VT) foi introduzido no Brasil nos anos 1960 - década marcada pelo golpe militar de 1964 que instaurou a censura prévia em 1968 através do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Para veicular seus ideais de nação, a ditadura militar utilizou amplamente a TV como instrumento. Pertencente à esfera privada, da casa, ela permitia que idéias e informações chegassem á célula da sociedade: a família. Foi por isso que Walter Clark, um dos grandes nomes da televisão nacional, criou a grade de programação do horário nobre: baseada na sequência novela-novela-jornal-novela-linha de shows, a grade do horário nobre agregava, aos poucos, das 18h0o às 21h00, os membros da família em torno da televisão. Com a transmissão por satélite e a produção em cores (nos anos 1970), o poder da televisão se amplificou e ela se popularizou. Nos anos 1980, a abertura política e a chegada do controle remoto permitiram que o telespectador deixasse de ser programado e se tornasse mais “programador” do que estava querendo assistir. É por isso que os anos 1980 são marcados pelo início da “guerra pela audiência”, travada entre a TV Globo, o SBT e a Manchete. Na década de 1990, a chegada das TVs por assinatura dividiu a audiência em qualitativa e quantitativa: os canais por assinatura passaram a ter um público de alto poder aquisitivo, enquanto as emissoras abertas brigavam pela massa de telespectadores.
Agora, fala-se muito da interatividade da televisão digital. Mas o termo interatividade é muito complexo e polêmico. Por isso, abordaremos a televisão digital, com calma, em outro texto. O mesmo se dá em relação à internet. Por conjugar linguagens de diferentes mídias (texto, imagem, som e imagem/som), a internet também será abordada em outra ocasião.
Comentários
Não sou seu aluno, mas estou tirando bastante proveito dos seus escritos aqui.
Gostaria de saber se você tem alguma material ou poderia preparar um texto sobre planejamento de cobertura jornalistica.
Obrigado e mais uma vez parabéns.