Para entender estrelas e textos: linguagem e enunciação

Referências bibliográficas: ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. São Paulo: Editora Ática, 2003. / GRANATIC, Branca. Técnicas básicas de redação. São Paulo: Editora Scipione, 1999. / SOUZA, Luiz Marques de. & CARVALHO, Sérgio Waldeck. Compreensão e produção de textos. Petrópolis: Editora Vozes, 2000. / VANOYE, Francis. Usos da linguagem – Problemas e técnicas na produção oral e escrita. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1986.

Depois da abordagem sobre as FUNÇÕES DA LINGUAGEM e sobre a importância do ATO ILOCUCIONAL ou ENUNCIAÇÃO, bem como das características da narração, da descrição e da dissertação, vamos entender como todo este blá-blá-blá se conjuga durante a redação. Essa conjugação pode se dar de várias formas. Aqui, três serão abordadas:
1) a mensagem puramente referencial e o texto informativo;
2) a função fática e a comunicabilidade do texto;
3) a expressão do juízo na resenha crítica.

Na mensagem puramente referencial, como o próprio nome já indica, os elementos referentes ou os dados objetivos são os que têm relevância: via de regra, eles serão os únicos a serem apresentados. O resultado disso será um texto impessoal e objetivo que tem o propósito exclusivo de informar o leitor. A princípio, esse tipo de texto não tem um receptor definido, mas deve ter o potencial de fazer com que qualquer tipo de leitor o decodifique. Em outras palavras: tem que ser abrangente.
Por outro lado, esta abrangência neutralizadora do perfil do leitor é resultado de um projeto discursivo: a objetividade não é obra do acaso e sim um árduo plano de trabalho. Textos informativos têm que dar ao leitor todas as indicações possíveis a respeito de referentes reais e concretos, colocando-o a par de fatos, acontecimentos e circunstâncias de forma clara e direta. Por isso, síntese e precisão são fundamentais. São elas que farão quem escreve ter a capacidade de depreender de um fato, acontecimento ou circunstância aquilo que é essencial e apresentar isso com clareza.
Aqui, entra em cena a narração. Através de seus elementos (fato, tempo, lugar, personagens, causa, modo e conseqüência) e lançando mão da polifonia e da descrição objetiva, ela deixará de lado determinadas figuras da retórica como a aliteração, a paranomásia, a perífrase e o eufemismo. Apesar disso e por conta da abrangência que este texto demanda, ele não pode ser excessivamente distante do leitor: tem que manter com ele um canal que permita a decodificação da mensagem do início ao fim.
É aí que chegamos à comunicabilidade que este texto deve ter. E esta é, como vimos, a característica essencial da função fática. Nesse caso, temos que nos orientar pela importância que este tipo de função dá ao canal estabelecido para a transmissão da mensagem. Como este canal, aqui, é o texto escrito, ele precisa ter legibilidade, deve permitir uma leitura fácil que conduza a uma grande e rápida compreensão da mensagem. Isto se adequa à idéia de refacção da qual já falamos quando abordamos a questão da coerência. Para ajudar nesta decodificação do discurso, é necessário usar os mecanismos de coesão textual por articulação semântica e os mecanismos de coesão textual por articulação sintática durante o processo de codificação, ou seja, no ato de escrever.
Por isso, ao redigir, é preciso prestar atenção não só ao problema da escolha das palavras como também ao problema das estruturas frasais. À escolha das palavras, daremos o nome de seleção léxica. De uma forma geral, podemos afirmar que as palavras mais rapidamente percebidas são:
1) as palavras curtas, uma vez que as palavras longas exigem um esforço maior de decodificação;
2) as palavras de forma simples porque a prefixação, a sufixação e a composição prejudicam a legibilidade;
3) as palavras de uso corrente, já que as raras e as complexas não têm tanta abrangência.

Na hora de definir as estruturas frasais, devemos levar em conta a capacidade do leitor mediano em perceber e memorizar um conjunto de palavras. De acordo com alguns estudos, essa capacidade varia entre 10 (dez) e 30 (trinta) palavras. É óbvio que isto não quer dizer que só podemos construir frases com um número de palavras exclusivamente nesta faixa. Mais importante é observar que:
a) a construção das frases deve deixar transparecer suas articulações;
b) a extensão das proposições não deve ultrapassar continuamente a capacidade de leitura acima referida;
c) as palavras gramaticalmente dependentes não devem estar muito distantes umas das outras;
d) as palavras mais importantes para a compreensão da mensagem devem estar, preferencialmente, na primeira metade da frase ou proposição;
e) a estrutura geral da frase seja simples de ser reconhecida, evitando uma sintaxe rebuscada e permitindo que o leitor pressuponha a categoria de palavras que se seguem antes de lê-las.
Muitos desses tópicos também valem quando redigimos textos subjetivos. Nesse caso, é preciso prestar atenção ao fato de a expressão de um juízo ou de uma opinião pessoal dever sempre estar apoiado em argumentos sólidos. O julgamento puramente subjetivo é “achismo”, ou seja, tem pouco valor. Alguns textos opinativos são meramente pessoais e exprimem apenas o sentimento de quem escreve. Já outros se relacionam com elementos objetivos e, por isso, ajudam o leitor a formar um espírito crítico próprio.

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