Uma leitura de Vanoye: a escolha de palavras e a expressividade na linguagem escrita

Referência bibliográfica: VANOYE, Francis. Usos da linguagem – Problemas e técnicas na produção oral e escrita. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1986.

LÉXICO é o conjunto de palavras de uma língua peculiar a um grupo social ou a um indivíduo. Na prática, uma pessoa conhece apenas uma pequena parte desse vasto conjunto e, ao falar ou escrever, emprega apenas uma fração do que conhece. Ao escolher determinadas palavras para compor seu discurso, o indivíduo está fazendo uma SELEÇÃO LÉXICA para imprimir o sentido desejado àquilo que quer comunicar.
Ao estudo do sentido das palavras dá-se o nome de SEMÂNTICA, que é o saber que tenta distinguir os diversos aspectos do sentido dado a uma palavra. Alguns desses aspectos são:
a) o aspecto cognitivo (baseado no conhecimento objetivo);
b) o aspecto afetivo (baseado nos sentimentos pessoais);
c) o aspecto denotativo (que remete ao significante);
d) e o aspecto conotativo (que sugere ou evoca algo subliminar).
A comunicação pressupõe que os indivíduos têm um repertório de palavras em comum e que as compreendem da mesma forma. É por isso que o entendimento acerca das palavras concretas é mais fácil do que o entendimento sobre as palavras abstratas, que têm significado mais disperso. Ou seja: para haver compreensão, é preciso que uma palavra apresente um certo grau de uniformidade para vários indivíduos.
Paralelamente, precisamos também atentar para o conjunto de significações que uma palavra assume num determinado enunciado. A isso, damos o nome de CAMPO SEMÂNTICO. Dessa forma, podemos deduzir o sentido que uma palavra assume num determinado enunciado, podemos determinar que denotação ou conotação ela assume neste enunciado em particular.
Por isso não esqueça: o LÉXICO e o SEMÂNTICO das palavras são essenciais para quem quer se expressar com eficácia e, assim, comunicar/informar o que deseja.
A língua falada tem recursos expressivos próprios que envolvem a acentuação, a entonação, as pausas, a fluência etc. Com a acentuação e a fluência, por exemplo, colocamos em relevo uma sílaba ou um grupo de sílabas e recortamos a mensagem em grupos identificáveis. Da mesma forma, a entonação e as pausas dão relevo expressivo a certos aspectos da mensagem, de forma que ela pode transmitir tipos diferentes de informação.
Como já afirmamos anteriormente, o Brasil é um país extremamente oralizado. Por isso... Como traduzir esta expressividade oral para a escrita? Segundo o autor Francis Vanoye, esta tradução se dá pela representação aproximada do que foi pronunciado. Aí, a melhor opção é empregar o ESTILO DIRETO. Mas, apesar da transcrição de um diálogo repetir um discurso, as características específicas da língua falada exigem determinadas técnicas de escrita.
Isso se dá porque a língua escrita é menos “econômica” que a língua falada. Ela dispõe do recurso da PONTUAÇÃO para transcrever certas características da língua falada. Para Vanoye, a pontuação tem uma função lógica: ela recorta o discurso em grupos de palavras e evita os erros de interpretação. É claro que devemos, na escrita, tirar partido dos recursos expressivos da língua falada, adotando uma sintaxe menos rígida para facilitar a transmissão de informação. Mesmo assim, é preciso, como diz Vanoye, ressaltar que:
a) não se pode perturbar a estrutura de uma língua de um dia para outro sem confundir seus usuários;
b) a ortografia promove uma certa coesão das mensagens escritas, dando forma e clareza ao discurso escrito.
O que você deve ter sempre em mente quando estiver escrevendo é o fato de que o seu texto deve ser o mais persuasivo possível, para que você possa transmitir com a máxima exatidão o que deseja. Aqui, nós voltamos para os gregos. Há muito tempo eles já se preocupavam com isso. Não é à toa que devemos a eles (e a Aristóteles em particular) a arte do bem dizer: a RETÓRICA.

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