Uma leitura de Vanoye: a retórica, suas figuras e funções

Referência bibliográfica: VANOYE, Francis. Usos da linguagem – Problemas e técnicas na produção oral e escrita. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1986.

A retórica ou a arte do bem falar consistia em um conjunto de técnicas destinadas a regrar a organização do discurso de acordo com os objetivos a serem atingidos. Era um meio de chegar ao domínio da linguagem verbal. Só que, com o tempo, a retórica se reduziu a uma técnica de ornamentação do discurso, tornando-se sinônimo de afetação ou de declamação falsa. De uns tempos para cá, o estudo sobre esta técnica tem deixado de lado seus aspectos pejorativos. Como ensina a compor e a organizar o discurso, a retórica faz distinção entre várias etapas. Vamos a elas:
1) encontrar o que se vai dizer, ou seja, encontrar argumentos;
2) dispor os argumentos numa ordem que depende do objetivo traçado, ou seja, dispor os argumentos com a intenção de informar;
3) construir um plano de trabalho e cuidar da elaboração do discurso, tendo em vista o modo de apresentação dos argumentos.
É justamente no modo de apresentação dos argumentos que a retórica vai se utilizar das FIGURAS DE LINGUAGEM. Entre elas, podemos destacar:
1) a aliteração, que repete um som ou um grupo de sons como, por exemplo, em “o rato roeu a roupa do rei de Roma”;
2) a paronomásia, que aproxima termos vizinhos pela sonoridade e não pelo sentido como, por exemplo, em “quem viver, verá”;
3) a hipérbole, que é a mais exagerada das figuras, como verificamos na expressão “história escrita com sangue”;
4) a perífrase, que usa muitas palavras para dizer o que poderia ser expresso em apenas uma, quando, por exemplo, usamos “a estação das flores” em vez de “primavera”;
5) a metáfora, quando um termo substitui outro por analogia, numa comparação que não explicita o termo comparado, como quando, por exemplo, dizemos “ele é uma porta” para dizer que alguém é “teimoso como uma porta”;
6) a metonímia, que exprime um objeto por um termo que designa outro objeto, como em “ele comeu todo o prato”; a metonímia pode exprimir o todo pela parte ou a parte pelo todo.
Além disso, também há o eufemismo, que consiste em amenizar uma idéia desagradável. Isso acontece, por exemplo, quando um aluno que é surpreendido com uma “cola” diz ao professor que o flagrante é apenas um “resumo” ou um “lembrete” da matéria da prova...
Na produção de um discurso, a linguagem pode assumir diferentes funções: manter contato entre o escritor e o leitor, exprimir sentimentos de quem escreve, explicar algo diretamente e até confundir quem está lendo. Tudo vai depender dos seis elementos que estão implicados no processo de comunicação: emissor, receptor, referente, canal, código e mensagem. Vamos a elas:
1) função expressiva- é aquela centrada sobre o emissor; é tudo aquilo que, na mensagem escrita, revela a personalidade e a opinião de quem escreve e, por isso, tem função emotiva;
2) função conativa- é aquela que remete ao destinatário da mensagem, usando muito os imperativos e que, por isso, tem função apelativa;
3) função referencial- é a que informa objetivamente sobre determinada realidade, ou seja, está centrada no referente da mensagem e, assim, tem função informativa ou cognitiva;
4) função fática- é aquela que se preocupa em manter a comunicação, o contato entre emissor e receptor, ou seja, está centrada no canal estabelecido e, por isso, tem função interlocutória;
5) função metalingüística- é a que está centrada sobre o código que está sendo utilizado para comunicar, ou seja, quando a linguagem é usada para falar da própria linguagem;
6) função poética- é aquela centrada na mensagem, colocando seu sentido em um plano inferior e privilegiando os jogos possíveis de sua estrutura.
É importante frisar que essas funções da linguagem dificilmente se encontram sozinhas em uma mensagem. Geralmente, elas se superpõem. Estar ciente disso é fundamental não só para a produção como também para a análise de textos e enunciados.

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